domingo, 27 de maio de 2012

Bel Ami (2012)


Guy de Maupassant escreveu o livro que me encantou há mais de 20 anos atrás. Declan Donnellan e Nick Ormerod, diretores de Bel Ami, conseguiram me deixar, também, em estado de encantamento.


O imoral e sem talento para o jornalismo (mas talentosíssimo com as mulheres), Georges Duroy, vivido por Robert Pattinson, está perfeito!

Uma Thurman, na pele de Madeleine Forestier, dispensa qualquer comentário.

Criticam Patisson, no filme, mas eu gostei, achei uma atuação madura.

Enfim, eu recomendo! O único problema de Bel Ami, é não ser um filme francês; causa estranheza o idioma inglês em tal cenário e os ouvidos ficam pedindo a sonoridade musical do idioma francês. Fica o desejo de assistir uma versão de Bel Ami dirigido por franceses.


A decadente Belle Époque está irretorquivelmente retratada, se considerarmos a dificuldade em se resumir em um longa metragem todos os detalhes e a grandeza da expressão de Guy.

Labrador

O título original é LABRADOR (2012) - dirigido pelo dinamarquês Frederikke Aspöck, mas eu poderia jurar que a direção era do admirável Lars Von Trier, incrível a semelhança do trabalho dos dois dinamarqueses em termos de olhar, time, tomadas, perfil dos personagens, enfim...

De algum modo, Aspöck, como bom dinamarquês, deve ter aderido ao Dogma 95, ainda que labrador não se encaixe integralmente nas regras no D95, mas é, certamente, um filme realizado com mais realismo e nada comercial, tanto que levou o Prémio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Marraquexe (Marrocos) atribuído por um júri de peso.

Os personagens são um casal, ele um jornalista dinamarquês, ela sueca, que vai visitar o pai dela, um renomado artista plástico que vive como eremita numa ilha deserta na companhia de Elvira, uma Labradora Retrieve.

O roteiro, fala sobre o modo como as relações entre o pai e a filha, findam por “freudperturbar” ao namorado jornalista, tudo sempre com uma música de fundo que ri das neuroses humanas; quando você pensa que o momento é tenso, entra a música da trilha sonora, te indicando que nada é grave e tudo é risível, ainda que pareça sério.

Metalinguagem coloca corvos negros e a Labradora Retrieve, também negra a nos contar algo sobre o que é obscuro nas relações familiares. O pai, por toda sua vida, sempre passou os carnavais no Rio de Janeiro e tem até um apartamento em Copacana. A filha, tendo nascido em novembro, só pode ser filha de outro homem, pois quando o pai chegou do Rio sua falecida esposa já teria engravidado – descobre o jornalista conjecturando em meio ao que ouve em sua visita à ilha deserta. Quais são os limites do que podemos controlar nessa vida?

A filha avisa que está grávida e seu companheiro avalia se quer ou não ter este filho. Em meio às descobertas sobre a paternidade biológica do pai de sua companheira, vem a pergunta: Você seria capaz de criar o filho de outro homem?

O filme é curto (73 min), cru e genial! Apesar do tom musical leve, é, sim, perturbador e necessário. Olho nesses dinamarqueses, gente!

Habemus Papam

HABEMUS PAPAM (2012), como um bom filme italiano, já traz implícito aquele tom jocoso e alegre usado para criticar as coisas como se tudo fosse risível. Sendo de Nanni Moretti, então, já se pode imaginar o tamanho da caricatura!

Não, não se trata de um filme religioso, Moretti é ateu e traz como contraponto a peça teatral A Gaivota, de Anton Tchékhov: peça que se pretendia comédia e virou drama através do personagem Treplev, um dramaturgo que fracassa ao tentar trazer seu trabalho reflexivo aos moralistas e conservadores dramaturgos russos.

Em Habemus Papam, Moretti nos apresenta a um conclave do Vaticano para eleger o novo papa após mostrar imagens de aqrquivo da morte de João Paulo II. Mesmo havendo favoritos de todas as partes do mundo, os cardeais, não conseguindo chegar a um consenso, elegem Melville, o personagem do delicioso Michel Picolli, só porque é o mais simpático e quietinho, entre os presentes.

E ai começa a sátira, pois o novo papa entra em profunda crise diante de sua eleição; sequer chega a ser apresentado na sacada, ao público e mídia do mundo inteiro que espera pelo nome do novo papa, porque quando foi chamado a isso, lá dentro, antes de vir a público, teve uma crise de histeria, chorando e se recusando a aparecer.

O que se desenrola é muito bonitinho, pois o novo papa queria mesmo é ser ator, e, a despeito dos esforços do Vaticano em estabilizá-lo emocionalmente, o velho foge à paisana em perambulação anônima pelas ruas de Roma, enquanto todos ficam presos no Vaticanos, para não anunciar a ninguém o que se esta a passar.


Antes da fuga do velho papa, o Vaticano, mesmo não admitindo a existência do inconsciente, porque não poderia coabitar com a alma (seriam 2 noções antagônicas), contrata um psicanalista vivido pelo próprio Moretti, para tentar controlar a crise. Imperdível a cena em que o psicanalista vai fazer a primeira sessão com o papa: todos os cardeais ao redor, não os deixarão a sós, desconfiados! E ainda não se pode perguntar ao papa nem sobre sua mãe, nem sobre sua infância, nem sobre seus sonhos; é hilário!

Quando o velho escapa do Vaticano, o psicanalista, preso com os cardeais até a resolução dos problemas, acaba realizando com eles uma espécie de terapia de grupo, através da organização de um jogo de vôlei, que expressa uma crítica inteligente de Moretti à questão geopolítica que já fora exposta, durante a eleição, no conclave.

Em meio a tudo isso, o papa acaba se hospedando no mesmo hotel que uma trupe teatral, e se mistura justamente com a interpretação de A Gaivota, de Tchékhov: se nos mostra, então, o papa que queria ser ator e não se deu conta do grande palco que é o Vaticano; a grande ausência do divino no cargo que se pretende o representante de Deus na terra; o quanto a igreja católica é fechada em si mesmo, a despeito da grande bondade e aparente ingenuidade de seus cardeais, que, no filme, são bem pouco inteligentes. 

Enfim, mais do que uma simples crítica à igreja católica, Moretti nos leva a olhar os homens em seus anseios humanos, não importa qual manto de "santidade" estejam usando.

O Solista


Apesar de todo o entorno, O SOLISTA (2009) não é sobre arte, não é sobre música, nem sobre a loucura ou os sem tetos de Los Angeles, mas sobre como o jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) se reencontrou consigo mesmo através do morador de rua Nathaniel Anthony Ayers Jr. (Jamie Foxx) .

Joe Wright dirige o filme com mão pesada e consegue nos impor solidariedade a nós mesmos, quem não tem um pouco a sensação de gênio incompreendido dentro de si?

O jornalista Steve Lopez não padece de nenhuma enfermidade mental e está passando por isso, com a desvalorização do jornalismo e, sem ter o que escrever, se depara com o esquizofrênico Nathaniel que, por seus próprios motivos, vive o mesmo drama em relação a música.

O talentosíssimo e genial Nathaniel já fora aluno da Julliard e estava nas ruas carregando seu carrinho e tocando um violino de duas cordas dentro de um túnel, mas quem, de verdade, acaba saindo de dentro de seu túnel existencial, é o próprio jornalista.

O filme é baseado na história real contatada em sua coluna no Los Angeles Time pelo próprio Steve Lopez, sem dúvida o grande e verdadeiro solista de toda a história (se assim não fosse, o título do filme estaria no plural).

De qualquer forma, é sensível, delicado e nos leva a pensar que, talvez, só mesmo o profundo e real relacionamento com o outro - imperfeito, esquizofrênico, mendigo -, é o que nos pode resgatar da condição de solista.


Red Tails


"Os negros são mentalmente inferiores, subservientes por natureza e covardes ao enfrentar o perigo. E assim, são inadequados ao combate" - Escola de Estudos de Guerra do Exército Americano, 1925.

No ano de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, os pilotos negros do programa de treinamento experimental Tuskegee mudam radicalmente esse conceito, por sua coragem, bravura e inteligência.


A história é real, o produtor executivo é Geoge Lucas ( Lucasfilm), os personagens de ficção são muito envolventes e eu recomendo, é uma belezura (ainda que o diretor Anthony Hemingway abuse um pouco do Chroma Key).