Um dos
primeiros filmes de Michael
Haneke, que já trilhava firme seu estilo hiper-realista, Benny’s Video é uma crítica crua e violenta à
sociedade do espetáculo, particularmente no que diz com deslumbramento
midiático, em tempos onde cada um carrega em si a possibilidade da produção
audiovisual, que aprisiona e hipnotiza, mantendo-nos à margem de nós mesmos, como
meros espectadores de nossas próprias vidas e completamente despidos da
condição de sujeitos.
Benny é um adolescente nórdico, pertencente a uma
família aristocrática que cultiva o hobby das imagens. Passa a maior parte do
tempo confinado em seu quarto, que é uma bem equipada ilha de edição das
imagens que costuma captar, assim como seus pais.
O jovem é
aficionado por um vídeo que fez, de um enorme porco sendo morto com uma pistola
de ar comprimido. Cena brutal e violenta que vê e revê incessantemente, até
passa-la para uma garota que leva para seu quarto numa ocasião em que seus pais
saem em viagem.
Após
verem o vídeo caseiro do porco, feito na propriedade da família de Benny, o garoto tira de uma
gaveta a arma que matou o porco e provoca a garota a comprimi-la contra si.
Num jogo
adolescente onde ele a chama de covarde por não ter tal “coragem”, Benny acaba disparando a arma no corpo da
jovem, que o desafiara questionando porque ele não o fazia, também o chamando
de covarde.
Todas as
câmeras de Benny estavam a postos para captar tão
bizarro espetáculo e a mocinha agoniza como um porco até sucumbir aos disparos
do garoto.
O que se
esparrama aos nossos olhos e mentes a partir dai, é uma trama brutal na qual o
próprio filho providencia a exibição do vídeo da morte da garota aos pais,
causando reações de deslumbramento e medo que vão desde a racionalização sobre
se devem ou não entregar o filho à polícia, até a decisão de protegê-lo,
protegendo-se a si mesmos, como pais que poderiam ser acusados de negligentes na
condução dos fatos ligados ao filho.
A família
tem um esqueleto guardado no armário, e enquanto avalia o que fazer com ele,
discute a decisão de levar os pertences da defunta para queimá-los na fazenda e
esquartejar o seu corpo em pequenas partes que possam sumir “desde que não
entupam o encanamento”, ao mesmo tempo em que o filho é levado para uma viagem
com a mãe, em visita a região do Oriente Médio.
No
retorno, vê-se que os membros da família não sofreram alterações emocionais
significativas, a despeito do bizarro episódio. O pai tenta conversar com Benny tranquilizando-o ao argumento de
que tudo está sob controle e consegue até pronunciar um tímido “eu te amo”, que
se perde na ausência de reação do filho.
É como se
todos tivessem apenas saído juntos de uma sala de cinema, ou algo assim.
Ao final, Benny triunfalmente leva à polícia sua
obra prima: o vídeo editado onde os pais falam de um corpo a ser picotado e de
pertences de uma jovem morta a serem queimados. O delegado lhe faz algumas
perguntas e o jovem lhe questiona: “posso ir agora?”.
Pais e
filhos se encontram na porta da delegacia, quando aqueles são chamados e este
foi liberado por ter trazido imagens que os comprometiam.
Todos
seres apáticos, resignados... Resta a nós, espectadores, a imagem e o seu
incômodo.
Viva Haneke, o visionário Haneke, que já em 1992 nos chamou a pensar sobre isso. Pensemos!