Finda a temporada do Oscar,
voltando aos franceses, me deparo com Jeune
et Jolie e a história de Isabelle
(interpretada corajosamente pela modelo Marine
Vacth) a jovem e bela adolescente de François
Ozon, que em 2012 nos presenteou com o genial Dans la Maison (Dentro da Casa).
Isabelle mora
com sua mãe, padrasto e irmão mais novo e Ozon
nos faz acompanha-la por quatro estações, começando pelo verão, na praia, onde
ela apaga as 17 velinhas de seu bolo de aniversário e perde sua virgindade com
um jovem alemão.
Nada material falta a Isabelle, mas na estação seguinte, o
outono, vemos a jovem, secretamente, iniciando-se na prostituição.
E Ozon constrói a história de alguém a quem de verdade falta algo que
caberá a nós, espectadores, descobrir o que é.
Há um pai, que mora longe e que
nunca vemos, mas que em alguns diálogos aparece sem que Isabelle nos diga quem, de fato, é esse pai. “É meu pai” e ponto.
Sabemos que o pai lhe manda
dinheiro em duas ocasiões no ano: em seu aniversário e no natal, mas o pai não
é o responsável pelo enredo essencial do filme.
Ou seria?
Em sessão de terapia na
companhia da mãe, esta se surpreende ao saber que o pai mandara um cheque de
500 euros diretamente a Isabelle no
último natal.
Ozon tem
esse dom, de nos deixar intrigados e pensantes por tempos ainda, depois do
filme findo.
Nas quatro estações nas quais nos é apresentada a vida de Isabelle,
começando com o seu aniversário de 17 anos, fica evidente sua enorme
dificuldade em se ligar afetivamente a alguém; com a própria mãe não a vemos
ligada.
Há um vínculo amoroso com seu irmãozinho
e com uma amiga do colégio. No mais, não a vemos capaz de criar vínculos
afetivos, entregar-se.
No verão a conhecemos, no
outono ela se prostitui sob o codinome de Léa e se afeiçoa muito a um velho
que acaba morrendo embaixo dela enquanto faziam sexo no quarto de um luxuoso
hotel.
No inverno, após ter seus atos
descobertos pela mãe através da polícia, por conta da morte do velho, Isabelle inicia tratamento
psicoterápico e acaba voltando a ser uma jovem “normal”.
A questão do dinheiro (e quantos
euros ela acumulava escondidos numa nécessaire
no maleiro de seu guarda roupas!), como algo que a aliviava de algum sentimento
que não conseguimos identificar exatamente qual é, até por que, se há algo que
ela realmente não necessitava era dinheiro. Tanto que o guardava todo.
A destinação desta grande
quantia em dinheiro, apropriada pela mãe e reivindicada pela jovem após ter
sido descoberta. A mãe silencia sobre a apropriação, Isabelle a questiona; a mãe sugere que seja destinado a uma instituição
de reabilitação de jovens prostitutas; Isabelle,
na primeira sessão de terapia, acompanhada pela mãe, provoca, perguntando qual
o preço da sessão e dizendo que quer pagar as próximas com o dinheiro que
ganhou. A mãe discorda, mas o terapeuta avaliza, afirmando que isto seria
salutar.
Na primavera, Isabelle, em terapia, passa a viver uma
vida comum às jovens de sua idade; trabalha como baby-sitter para uma amiga de sua mãe que teme ter seu esposo
seduzido por ela, vai a uma festa da escola para dar uma força a uma amiga,
conhece ali um jovem de sua idade que a quer beijar e começa a namorá-lo,
aplaca, enfim, os temores da mãe de que ela seja uma ninfomaníaca e a vida
parece ter retomado seu curso de normalidade.
Já ao final da primavera,
porém, em cena domingueira familiar, após todos fazerem planos de onde passarão
juntos o próximo verão, vemos Isabelle dizendo
ao jovem que o namoro acabou e que ela não o ama.
Numa tradução de toda
curiosidade e todo desejo de experimentação, típicos da adolescência, Isabelle
tira de um esconderijo seu chip de celular dos tempos da prostituição e se
depara com uma infinidade de recados para Léa.
Vemos Isabelle, então, no saguão do mesmo hotel em que morrera o velho, a
espera de um cliente que, para
surpresa, é a própria esposa do velho, Alice,
na pele da magnífica, esplendorosa e divina Charlotte Rampling, uma
senhora de grande beleza e de classe inigualável.
Charlotte Rampling |
Ozon que,
para cada estação do ano de Isabelle,
nos oferece uma diferente canção de Françoise
Hardy: L’Amour d’un Garçon, para o verão; A Quo iça Sert, para o
outono; Premiere Rencontre, para o inverno e Je Suis Moi, para a primavera e
final de seu filme.
Jeune
et Jolie é, portanto, uma sinfonia; brutal e delicada ao mesmo tempo.
Abaixo, as quatro canções de Françoise Hardy que representam quatro estações na vida de Isabelle:
Abaixo, as quatro canções de Françoise Hardy que representam quatro estações na vida de Isabelle:
.L’Amour d’un Garçon, para o verão:
A Quo iça Sert, para o outono:
Premiere Rencontre, para o inverno:
Je Suis Moi, para a primavera:
2 comentários:
Maravilha,Tania!!! Eu estava meio orfã, depois do Oscar, sem filmes para assistir e você indica este filme francês, que amei, com músicas novas da Françoise Hardy( adoro "La question" -"Je ne sais pas qui tu peux être"-) só ouvi-la já vale o filme!!!!!O filme é denso, provocativo e o final com a Charlotte Rampling é outro presente!!!Obrigada, minha cinéfola preferida!!!!
Sou eu quem agradeço o seu generoso comentário, Sueli!
De fato, Charlotte Rampling é um presente dentro de um presente, assim como as músicas de Hardy.
Fico feliz que tenha gostado!
Um beijão!
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