ADVERTÊNCIA 1: O
assunto é forte, não leia e não assista o filme se tiver a mente fechada para
as questões da psique humana!
ADVERTÊNCIA 2: Eu
vou contar a história do filme todo. Não leia se não quiser saber a história do
filme!
Eu estou até agora de olhos
estatelados diante do atrevimento do diretor Caio Sóh em fazer este filme.
Você começa o filme vendo um
homem barbudo chorando, dirigindo um carro e chorando copiosamente. “Deve ter
brigado com a namorada”, pensa. Mas ai você sente que o choro é muito copioso e
deve ter morrido alguém... “Perdido tudo o que tinha?”
Sabe-se lá porque aquele
homem chora tanto, mas fica, já no início do filme, a certeza de algo estranho,
indefinível, que traz aquele choro à cena logo no início do filme.
Corta para uma cena onde
dois homens assistem em Super Oito imagens do passado de um deles, Otávio, o homem que chora no começo,
vivido pelo charmosíssimo Remo Rocha.
O outro homem é seu atual
companheiro e as cenas são filmagens de um amor do passado de Otávio, Ligia.
Cenas de juventude, românticas e um pouco atrevidas, os dois na praia, Ligia tirando a roupa e convidando Otávio a um banho de mar...
Cenas de juventude, românticas e um pouco atrevidas, os dois na praia, Ligia tirando a roupa e convidando Otávio a um banho de mar...
O companheiro de Otávio tem uma crise de ciúmes ao ver
os olhos amorosos com que o ser amado olha para seu passado com Ligia.
Otávio
se
sente mal com a crise de ciúmes do outro, pede para que ele não estrague a
história dos dois com ciúmes do passado; diz que primeiro ele teria que voltar
a gostar de mulher, depois reencontrar Ligia para que o companheiro então
pudesse pensar em começar a ter algum ciúme.
Brigam. É noite. Otávio sai para a praia, desopilar.
Corta para uma cena
doméstica, onde um jovem - Gil chega
em casa bêbado e é muito cobrado por um homem que parece ser seu pai, mas na
verdade é o marido de sua tia (Roberto
Bomtempo), uma vez que sua mãe morrera e ele fora criado por sua tia
Leila (Paloma Duarte).
Típica cena de jovem
incompreendido em conflito familiar, com discussões, e culpas, e álcool e
baseado e um quarto todo maluco, pichado, e violão, e uma clarineta que Gil começa a tocar trancado no quarto
em plena madrugada, a tia intervém, o jovem a ama e detesta mesmo é seu tio,
mas sai com seu violão na madrugada, vai até a praia para compor e desopilar.
O fabuloso Emílio Dantas dá vida a Gil, o jovem que namora Carla, também barbudo, cabeludo, com
grandes pensamentos existenciais, em confronto com sua própria história
autodestrutiva de vida, sem nenhuma perspectiva de futuro que não seja a crise
e a crise e a crise.
Num quiosque na praia, se
encontram os dois, Gil e Otávio.
Gil, sem grana, pedindo fiado para poder beber uma dose enquanto compõe, é visto por Otávio, que é pianista e produtor musical, e lhe oferece o quanto queira da garrafa de whisky com a qual estava abraçado.
Gil, sem grana, pedindo fiado para poder beber uma dose enquanto compõe, é visto por Otávio, que é pianista e produtor musical, e lhe oferece o quanto queira da garrafa de whisky com a qual estava abraçado.
Os dois bebem, falam da
vida, da música, das dores da existência...
Gil leva Otávio ao
apartamento de uns amigos malucos, todos fazendo uma música de excelente
qualidade, e bebem mais e se sentem leves e se sentem livres e de repente estão
muito felizes.
Voltam para a praia, quase
ao amanhecer, Otávio se recorda do
filme com Ligia, que vira no início
da noite, faz como ela, tira a roupa, convida Gil para um banho de mar e mergulha.
Gil, de
calça jeans, tira a camiseta e mergulha também.
Voltam para a areia, dizem
que estão felizes um na companhia do outro. Otávio admite que aquela foi uma noite incrível, onde se sentiu
livre. Olham-se nos olhos e se reconhecem: “eu me vejo nos teus olhos”.
Os rostos se aproximam.
Beijam-se.
Gil
fica
mexido. Enojado, foge após o beijo. Otávio
lhe pede desculpas, diz que isso não era para ter acontecido.
Na sequencia, expulso de
casa pelo tio opressor (que o considera um vagabundo porque quer ser músico), Gil acaba pedindo um tempo para sua
namorada Carla, pois diz que alguma
coisa aconteceu dentro dele que precisa digerir.
Sem ter para onde ir, Gil vai ao estúdio de Otávio, lhe pede ajuda com trabalho e
avisa: “só que eu não quero esses papos de viado, não venha com esses papos pra
cima de mim por que essa não é a minha praia!”.
Otávio
rompera com seu companheiro, por que, o tendo visto com Gil na praia aquela noite, numa crise de ciúmes queimara o filme e
todas as lembranças dele com Ligia.
Inicia-se um processo
musical muito produtivo. Otávio
reúne os amigos musicais de Gil,
lhes grava um CD, começam a fazer show. Gil
ajuda no estúdio, ganha algum dinheiro e, numa ocasião em que Otávio percebe que Gil está sem casa, o convida para ir dormir na casa dele aquela
noite. No sofá.
Corta para os dois
amanhecendo na cama de Otávio.
Gil com suas elucubrações poéticas a respeito de quem fora e de quem agora passara a ser, ouve de Otávio que ele descobriu que nessa vida é bom se deixar estar no peito de alguém em quem se confia. “Não importa se é no peito de uma mulher, ou no de um homem, o que importa é encontrar o peito de alguém em quem se confie e onde se possa estar feliz.”
Gil com suas elucubrações poéticas a respeito de quem fora e de quem agora passara a ser, ouve de Otávio que ele descobriu que nessa vida é bom se deixar estar no peito de alguém em quem se confia. “Não importa se é no peito de uma mulher, ou no de um homem, o que importa é encontrar o peito de alguém em quem se confie e onde se possa estar feliz.”
Os dois passam a se relacionar
amorosamente; Gil vem para a casa de
Otávio, recebe apoio constante para
crescer como Homem, inicia a faculdade de Música, ganha um carro de presente do
companheiro. Há, ali, muito carinho. Uma proteção muito paternal de Otávio sobre Gil e uma devoção quase filial de Gil para com Otávio.
Tudo envolto pelo amor carnal, mas se misturando de forma quase etérea com os
outros elementos que o amor pressupõe.
Tempos depois, o tio
carrasco de Gil morre e o garoto,
que amava muito a tia que o havia criado, decide que quer voltar à casa onde
cresceu e apresentar à tia o seu companheiro.
A despeito da resistência de
Otávio, os dois vão para um jantar
na casa da tia Leila e, antes ainda
do jantar, ela passa mal, vomita, sua pressão sobe, ela se tranca no banheiro e
pede ao sobrinho que eles voltem outro dia.
Ambos saem, chateados. Gil entende que a tia talvez precise de
um pouco mais de tempo para aceitar seu relacionamento com outro homem. Otávio se sente muito triste e
incomodado e, noutro dia, vai sozinho à casa da Tia Leila conversar com ela.
Tia Leila o recebe, convida a se sentar e ouve as explicações de Otávio de que ele ama e quer o melhor para Gil.
A tia somente repete que
aquele romance não é possível.
Otávio
insiste, pergunta se é pelo fato de ele ser muito mais velho e a tia vai até o
quarto, retornando com um porta-retratos com a foto da mãe de Gil, que morrera quando ela, Leila, tinha nove anos e Gil era apenas um menino.
Otávio
fica surpreso ao saber que Gil era
filho de Lígia.
Surpresa maior, entretanto,
e grande desconforto, apesar de que você já tinha sacado isso, no transcorrer do filme,
é saber que Gil era filho de Lígia com Otávio (que nunca soubera da gravidez).
E ai a gente volta pro
começo, e vê aquele homem chorando muito.
E compreende os motivos.
O filme acaba assim.
Chamem o Freud, por favor,
para explicar essa coisa do desejo e das coisas proibidas que estão intimamente
ligadas ao desejo de cometê-las!
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