FLORES RARAS é sem dúvida um
belo filme, mas muito previsível. No conjunto da obra o que se destaca mesmo é
a atuação impecável de Glória Pires, uma puta atriz que se entrega às cenas de
um modo espantoso e intenso, além de refletir perfeitamente a carioca liberada,
rica e talentosa dos anos 60/70.
Lota, interpretada por
Glorinha, ganha ares de intrepidamente amoral, Mas, oh, não, que pena, ela é um
homem! Em tudo e por tudo um homem... Poderia ser uma mulher que ama outra
mulher, mas, não, ver ali um homem para mim foi muito decepcionante e, até, eu
diria mais, um fardo... Ela só se comporta como uma mulher ao final, mas ai já
acaba o filme e Bruno Barreto fica me devendo alguma coisa que não sei bem
dizer o que é.
Lilás, Bruninho Barreto, a
única cena na qual efetivamente pude ver sua mão foi aquela do vidro, em que
Bishop e Lota se amam pela primeira vez naquele magnífico cenário em Petrópolis
e Lota está encostada naquele vidro como se estivesse no vácuo; no mais, sem
grandes apontamentos para o diretor.
O diretor de fotografia foi
legal com a gente e muito generoso, mas são cenários que falariam ainda que
fotografados por uma criança, sim, o Rio de Janeiro continua lindo e Petrópolis
é algo assim indizível!
A trilha sonora foi
bacaninha, também, com destaque pra Blue Velvet e Sábado em Copacabana.
Li por ai que Miranda
Otto, atriz australiana que fez o papel de Bishop, teve “medo de expor
demais a vida de alguém que era extremamente contida" e, de fato,
dá pra sentir mesmo nela esse medo numa interpretação de alguém que não se
joga, não se entrega a personagem, ainda que seja para viver alguém contida.
Tampouco
conseguiu me convencer a força do relacionamento de Bishop com a poesia,
aquilo que Barreto considera o foco do filme, uma vez que, na realidade, foi
maior que seu relacionamento com Lota (a não ser pelo fato de ela ter deixado o
Rio e voltado a ensinar poesia nos EUA, dedicando-se amorosamente a uma
aluna...) e até mesmo com o studio no platô preparado pela arquiteta, do que com a própria poesia (até me espantei quando veio a notícia de que ela ganhou o Pulitzer, pois não a tinha visto, no filme, poeta!).
O filme está
mais ou menos bem situado historicamente, com aquela presença poética de Carlos
Lacerda e a gente consegue saber em que tempos a história está se passando.
Oscar de Melhor
Atriz para Glória Pires (a americana Tracy Middendor, que interpretou Mary
Morse, pode tranquilamente ficar com o de Melhor Coadjuvante). Talvez o filme
receba uma indicação de Melhor Estrangeiro, por conta dessa atenção ao idioma
inglês (que Glorinha pronuncia barbaramente!) e por se tratar de uma poeta
americana comparada a Emily Dickinson
(Dickinson, para mim a melhor entre as melhores!).
No mais, estou
indo embora! Agora já podem me chamar de lagartixa, mas, por favor, esperem que
eu tome uma certa distância para começar a atirar as pedrinhas.
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