Se você ficou assombrado com AMOUR, do Haneke, imagino
o que poderá pensar de Quelques Heures
de Printemps do diretor Stéphane Brizé.
Ah, os franceses, meldewlsdelcielo, OS FRANCESES!!!!!
Eu estou até agora catatônica com a capacidade que os
europeus têm em tratar de temas tão áridos de forma tão precisa e preciosa!
Algumas
Horas de Primavera é simplesmente uma
irretorquível obra prima que trata da relação entre mãe e filho, mas poderia
ser qualquer outra relação visceral de profundos laços, a sensação é a mesma...
Ou quase.
É a história do homem de 48 anos, Alain Evrard (interpretado por
Vincent Lindon),
que ao sair da prisão após 18 meses, volta a morar com a mãe, viúva, a Sra. Yvette Evrard,
interpretada pela maravilhosa Hélène
Vincent.
Alain era motorista de caminhão e acabara sendo preso por
contrabandear objetos a mando de seu chefe. Mas, quando sai da prisão, encontra
dificuldades em encontrar trabalho e, no retorno à casa materna, bem se vê que
há uma clara dificuldade de relacionamento ali, entre mãe e filho.
Num compasso lento, denso e que, mesmo assim, nos
deixa colados ao filme, vamos sendo informados, junto com Alain, que aquela senhora sistemática, rígida e até um tanto quanto
antipática, que implica muito com o filho, está em fase quase terminal de um
câncer no cérebro.
A despeito disso, a mãe leva sua vida cotidiana de
forma impecável e tem imensa força.
O filho, por seu turno, vai mostrando todas as
características de uma imaturidade afetivo-relacional, que se acentua em suas
atitudes grosseiras para com a mãe e até nas atitudes que tem com uma mulher,
que conhece e com quem protagoniza belas cenas amorosas no filme.
Ambos, mãe e filho, são duros e orgulhosos... Há muito
amor ali, vê-se, mas, como é mesmo na vida real, nenhum dos dois dá braço a
torcer e assim se passam os dias até que Alain
se informa melhor sobre a gravidade da doença da mãe e descobre, numa gaveta,
que ela adquiriu um plano em uma associação, que lhe assegurará um suicídio
assistido e indolor, caso sinta necessidade.
É um programa realizado na Suíça, já que a legislação
francesa não o permitiria.
Em meio as sutilezas das relações humanas, vão se
desenrolando ações que nos tocam profundamente o coração e alma sem que se
utilizem de artifícios musicais emotivos; é quase como em Haneke: sem música. E
digo quase porque, ao final, entra uma música, mas entra, assim, depois que já
estamos completamente arrebatados pela ação, e entra a nos dizer que apesar de
tudo a vida segue.
O filme todo é impecável, mas duas cenas, especialmente
me marcaram para sempre de forma indelével:
A primeira é a que retrata a eutanásia da mãe no
programa suíço, na companhia do filho, em um momento que se abre para questões
tantas, mas marca mesmo pela declaração de amor de ambos, um ao outro, naquele
momento final...
A outra é a cena final mesma, a última cena do filme,
depois que já começou a tocar aquela música que nos informa que a vida segue.
Só vendo, para entender... Só estando dentro do filme para sentir a grandeza
desta cena final, tão simples e ao mesmo tempo tão avassaladora! É nessa hora
que a angústia, a agonia e a raiva sentidas durante o decorrer do filme saem do
seu peito e dão lugar a um sorriso e a um sentimento de que a vida é risivelmente
simples.
Aliás, a expressão e os traços faciais e corporais
emprestados a Alain pelo ator Vincent Lindon
e a fragilidade determinadamente forte da mãe Yvette Evrard,
presentes na belíssima interpretação de Hélène
Vincent são parte ativa da beleza e sensibilidade deste filme.
Filme, não: obra prima que eu recomendo ajoelhada com
as mãos postas em prece e a alma transfigurada louvando a capacidade dos
franceses em construírem algo tão belo! Ah, os franceses...
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