Este
filme não só é o primeiro
filme produzido dentro da Arábia Saudita, como também o primeiro longa-metragem dirigido
por uma mulher na história da Arábia Saudita.
Haifaa
al-Mansour é o
nome da poderosa.
Por
incrível que pareça, o filme não pode ser exibido lá, pois a Arábia
Saudita não dispõe de salas de cinema oficiais.
A Alemanha co-produziu
o filme, comparecendo financeiramente, com ajuda das comissões de cinema de
países como a Jordânia e Abu Dhabi e também do Sundance Institute e do
Hubert Bals Fund, ligado ao Festival de Roterdã
Delicado,
sem ser piegas, com um pé bem fincado na atualidade, Haifaa
al-Mansour, que também assina o belo roteiro, dirige
a garota Waad Mohammed, que
estreia no cinema interpretando a garota Wadjda,
de forma brilhante, trazendo-nos, ao mesmo tempo, uma história crua e sensível.
Através
de Wadjda, uma garota de 12 anos que quer a todo custo uma
bicicleta para apostar corrida com seu amigo, o garoto Abdullah, a diretora e
roteirista Haifaa al-Mansour constrói
um cenário que vai nos descortinando a opressão sofrida pelas mulheres naquele
país.
Assim,
vemos a mãe de Wadjda,
interpretada pela bela atriz Reem
Abdullah, sofrendo porque não pode mais ter filhos e seu esposo, por
mais que ambos se amem, deve ter um filho homem, o que autoriza a família dele
a lhe buscar uma segunda esposa.
Somos inseridos no ambiente escolar de Wadjda,
composto obviamente de forma exclusiva por mulheres, onde existem transgressões
adolescentes, assim como na sociedade ocidental, mas, desde a diretora da
escola, passando pelas professoras e as próprias meninas, existe, em regra, um
pacto profundo com tudo aquilo que as oprime.
Podemos acompanhar, também, a questão do trabalho feminino,
de sua locomoção, da forma como devem falar baixo ("sua voz é sua
nudez, você quer que os homens a vejam?" ensina a professora na
escola), as dações em casamento, quando ainda são muito jovens, o desejo feminino
reprimido, a vaidade restrita às paredes da casa, o ciúme masculino...
Mas o centro de tudo é mostrado a partir do desejo da menina,
e Wadjda quer uma
bicicleta.
Diante
da negativa em lhe darem uma, pois isto não é coisa para meninas,
imagine! Wadjda, que já tem habilidades em juntar dinheiro, se
inscreve num concurso promovido pela escola para meninas sobre o alcorão, cujo
prêmio é uma quantia significativa que lhe permitiria comprar uma bicicleta.
Linda a cena em que seu amiguinho Abdullah a vê chorando e lhe diz:
"eu te dou a minha bicicleta" ao que Wadjda responde: "mas ai eu não teria quem me acompanhasse!"
- insistindo em ter a sua própria bicicleta.
Vejam bem que a questão aqui não é, absolutamente a falta de
dinheiro para ter uma bicicleta, mas sim a proibição de que uma menina pedale
pelas ruas, sob pena, inclusive, de cair, se machucar e perder o bem mais
precioso de uma mulher, que é a sua virgindade (!).
O filme foi exibido e premiado em festivais como Veneza,
Roterdã e Abu Dhabi.
O final, assim como o filme todo, é lindamente simples e
reflexivo.
Eu
recomendo que você assista!
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