terça-feira, 4 de março de 2014

Jeune et Jolie (2013)

Finda a temporada do Oscar, voltando aos franceses, me deparo com Jeune et Jolie e a história de Isabelle (interpretada corajosamente pela modelo Marine Vacth) a jovem e bela adolescente de François Ozon, que em 2012 nos presenteou com o genial Dans la Maison (Dentro da Casa).

Isabelle mora com sua mãe, padrasto e irmão mais novo e Ozon nos faz acompanha-la por quatro estações, começando pelo verão, na praia, onde ela apaga as 17 velinhas de seu bolo de aniversário e perde sua virgindade com um jovem alemão.

Nada material falta a Isabelle, mas na estação seguinte, o outono, vemos a jovem, secretamente, iniciando-se na prostituição.

E Ozon constrói a história de alguém a quem de verdade falta algo que caberá a nós, espectadores, descobrir o que é.

Há um pai, que mora longe e que nunca vemos, mas que em alguns diálogos aparece sem que Isabelle nos diga quem, de fato,  é esse pai. “É meu pai” e ponto.

Sabemos que o pai lhe manda dinheiro em duas ocasiões no ano: em seu aniversário e no natal, mas o pai não é o responsável pelo enredo essencial do filme.

Ou seria?

Em sessão de terapia na companhia da mãe, esta se surpreende ao saber que o pai mandara um cheque de 500 euros diretamente a Isabelle no último natal.

Ozon tem esse dom, de nos deixar intrigados e pensantes por tempos ainda, depois do filme findo.

Nas quatro estações nas quais nos é apresentada a vida de Isabelle, começando com o seu aniversário de 17 anos, fica evidente sua enorme dificuldade em se ligar afetivamente a alguém; com a própria mãe não a vemos ligada.

Há um vínculo amoroso com seu irmãozinho e com uma amiga do colégio. No mais, não a vemos capaz de criar vínculos afetivos, entregar-se.

No verão a conhecemos, no outono ela se prostitui sob o codinome de Léa e se afeiçoa muito a um velho que acaba morrendo embaixo dela enquanto faziam sexo no quarto de um luxuoso hotel.

No inverno, após ter seus atos descobertos pela mãe através da polícia, por conta da morte do velho, Isabelle inicia tratamento psicoterápico e acaba voltando a ser uma jovem “normal”.

A questão do dinheiro (e quantos euros ela acumulava escondidos numa nécessaire no maleiro de seu guarda roupas!), como algo que a aliviava de algum sentimento que não conseguimos identificar exatamente qual é, até por que, se há algo que ela realmente não necessitava era dinheiro. Tanto que o guardava todo.

A destinação desta grande quantia em dinheiro, apropriada pela mãe e reivindicada pela jovem após ter sido descoberta. A mãe silencia sobre a apropriação, Isabelle a questiona; a mãe sugere que seja destinado a uma instituição de reabilitação de jovens prostitutas; Isabelle, na primeira sessão de terapia, acompanhada pela mãe, provoca, perguntando qual o preço da sessão e dizendo que quer pagar as próximas com o dinheiro que ganhou. A mãe discorda, mas o terapeuta avaliza, afirmando que isto seria salutar.

Na primavera, Isabelle, em terapia, passa a viver uma vida comum às jovens de sua idade; trabalha como baby-sitter para uma amiga de sua mãe que teme ter seu esposo seduzido por ela, vai a uma festa da escola para dar uma força a uma amiga, conhece ali um jovem de sua idade que a quer beijar e começa a namorá-lo, aplaca, enfim, os temores da mãe de que ela seja uma ninfomaníaca e a vida parece ter retomado seu curso de normalidade.

Já ao final da primavera, porém, em cena domingueira familiar, após todos fazerem planos de onde passarão juntos o próximo verão, vemos Isabelle dizendo ao jovem que o namoro acabou e que ela não o ama.

Numa tradução de toda curiosidade e todo desejo de experimentação, típicos da adolescência, Isabelle tira de um esconderijo seu chip de celular dos tempos da prostituição e se depara com uma infinidade de recados para Léa.

Vemos Isabelle, então, no saguão do mesmo hotel em que morrera o velho, a espera de um cliente que, para surpresa, é a própria esposa do velho, Alice, na pele da magnífica, esplendorosa e divina Charlotte Rampling, uma senhora de grande beleza e de classe inigualável.

Charlotte Rampling
O que se passa nesse encontro, além de belo e delicado, é, talvez, a chave deixada por Ozon para a nossa compreensão a respeito de todos os motivos de Isabelle.

Ozon que, para cada estação do ano de Isabelle, nos oferece uma diferente canção de Françoise Hardy: L’Amour d’un Garçon, para o verão; A Quo iça Sert, para o outono; Premiere Rencontre, para o inverno e Je Suis Moi, para a primavera e final de seu filme.

Jeune et Jolie é, portanto, uma sinfonia; brutal e delicada ao mesmo tempo.

Abaixo, as quatro canções de Françoise Hardy que representam quatro estações na vida de Isabelle:

.L’Amour d’un Garçon, para o verão:



A Quo iça Sert, para o outono:



Premiere Rencontre, para o inverno:



Je Suis Moi, para a primavera:


2 comentários:

Sueli disse...

Maravilha,Tania!!! Eu estava meio orfã, depois do Oscar, sem filmes para assistir e você indica este filme francês, que amei, com músicas novas da Françoise Hardy( adoro "La question" -"Je ne sais pas qui tu peux être"-) só ouvi-la já vale o filme!!!!!O filme é denso, provocativo e o final com a Charlotte Rampling é outro presente!!!Obrigada, minha cinéfola preferida!!!!

Tânia Mandarino disse...

Sou eu quem agradeço o seu generoso comentário, Sueli!
De fato, Charlotte Rampling é um presente dentro de um presente, assim como as músicas de Hardy.
Fico feliz que tenha gostado!
Um beijão!