O diretor mexicano Alejandro Gonzáles Iñárritu (Babel) mostra mais uma vez que não veio aos Estados Uniodos para brincar!
Birdman é um poderoso olhar sobre a indústria do entretenimento, que utiliza como matéria a própria alma humana, elemento que Iñárritu explora com propriedade, ao contar a história de um ex-astro de cinema que alcançou a fama com o personagem Birdman - um super herói -, em seu momento de estrela decadente - após ter se recusado a filmar Birdman IV- , buscando a todo custo projetar-se novamente no mundo do sucesso e da fama, através do teatro.
A provocação de Iñárritu é tamanha, que escalou como personagem principal do filme o ator Michael Keaton, há anos longe das telas, depois de seu sucesso com Batman, curiosamente, também um super herói, não um pássaro, mas um morcego, igualmente com asas.
E, não sei se pelo desafio, ou se pela magistral direção, Keaton está simplesmente imbatível no posto de candidato a Melhor Ator, indicação que recebeu, por sua magistral atuação em Birdman, ao prêmio maior da indústria do entretenimento americana, o Oscar (ainda que Eddie Redmayne - A Teoria de Tudo - tenha levado o Golden Globe).
Iñárritu consegue transformar Birdman em uma autofagia nutritiva que, se utilizando dos elementos da própria indústria do entretenimento, nos alimenta a todos e se retroalimenta, pois, não se enganem, esse filme levará muitas, das NOVE indicações que teve ao Oscar de 2015.
Eu aposto em Melhor Ator para Keaton (sem sombra de dúvida!), Melhor Direção para Iñárritu, Melhor Roteiro Original, Melhor Mixagem e Melhor Edição de Som. É claro que, levando Melhor Direção, Birdman pode (deve?) levar também Melhor Filme, como é tradição na academia (ainda que tenha sido desbancado por Boyhood no Globo de Ouro).
O filme tem, ainda, indicações para Melhor Atriz e Ator coadjuvantes, com Emma Stone e Edward Norton, e Melhor Fotografia.
Destaque para as tomadas de bastidores, em baixa luz, mostrando as coxias da Broadway, por onde Iñárritu nos leva a caminhar durante a maior parte do filme, como se estivéssemos fazendo um tour nos bastidores do inconsciente, aonde acompanhamos a esquizofrenia coletiva, não só do personagem central, mas de todos os que estão ao seu redor, buscando pelo mesmo alimento.
E o arredor é composto por um elenco de peso! Edward Norton é o ator que está em voga, cheio dos estrelismos e surtos da fama; Naomi Wats, vive a atriz cheia de culpas e penalizada por relacionamentos pretéritos; Zach Galifianakis, é o voraz advogado e agente que não se importa com nada que não seja o sucesso e a grana; Emma Stone da vida à problemática filha, lidando com a dependência química, que se ressente da ausência paterna, e por ai vai...
Iñárritu nos dá a conhecer o desejo do personagem central através de sua conversa com o próprio Birdman, caracterizado, misturando ilusão e realidade, desenrolando, assim, uma narrativa rica e densa, onde o personagem central, interagindo com seu alter ego, nos conduz criativamente pelo filme.
Mas é quando Iñárritu nos conduz para fora que o filme ganha ares e respira. E, assim, a sequência de cenas é perfeita e de uma criatividade espetacular.
O filme traz provocações, também, sobre os novos conceitos de fama e sucesso, contidos nas redes sociais e medidos através do número de views e de seguidores no Twitter.
Independente das indicações ao Oscar, Birdman é um filme imperdível para os apreciodores da Sétima Arte.
Confira o trailer:
Nota: em 2014 Gravity levou sete das dez indicações que teve: melhor direção, para Alfonso Cuarón, melhores efeitos especiais; melhor mixagem de som; melhor edição de som; melhor fotografia; melhor montagem e melhor trilha sonora. Houve quem duvidasse da afirmação de Cuarón de que se tratava do "melhor filme de espaço já realizado". Houve até quem o chamou de fanfarrão, mas a verdade é que Gravidade é um belíssimo filme, que trata mesmo é dos espaços internos da gente e mereceu os prêmios que ganhou. Foi a primeira vez que um latino ganhou o Oscar de Melhor Direção. Ao que tudo indica, em 2015, um mexicano será o grande vencedor novamente. Viva o México!
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