Drama pungente, baseado
em fatos reais, A TROCA (2008) conta a história de uma mãe solteira da Los Angeles de
1928, que uma tarde, ao chegar do trabalho, se depara com o desaparecimento de
seu filho de 9 anos.
Com a direção sensibilíssima e sempre bonita de Clint Westwood. o filme vai deixando cair vários véus, numa temática que abrange muito mais do que envolveria somente a história de uma mãe corajosa na busca de seu filho desaparecido.
É muito mais do que
isso! Fala de pessoas de bem, capazes de enfrentar os desmandos de poderosos,
pessoas que não se calam e que, juntas, conseguem realizar transformações na comunidade
em que estão inseridas.
Clint vai desvelando um
novelo intrincado, que começa com a busca do filho pela mãe, Christine Collins,
vivida pela belíssima Angelina Jolie, e você começa a se estranhar com a
polícia no momento em que ela lhes pede ajuda e eles lhe avisam que só
buscariam depois de 24 horas, uma vez que “esses meninos costumam sair e voltar
sem motivo” e o efetivo policial não deveria ser destacado para atender o que
poderia ser uma travessura de garoto, pois “tinha assuntos mais importantes
para cuidar”.
Para surpresa, porém,
logo no início do filme a mãe é avisada de que seu filho fora encontrado,
abandonado em um bar por um vagabundo. A mãe vai até uma estação de trem para
receber o menino e se depara com todo o efetivo policial em festa, com a
cobertura da imprensa local, e o chefe de polícia lhe pedindo que os elogie à
imprensa.
Porém, desce do trem um
menino que não era seu filho, Walter Collins. Mesmo afirmando que aquele não
era seu filho, a mãe é coagida pelos policiais a leva-lo para casa, ao
argumento de que os meses em que passara desaparecido o teriam feito perder
peso e mudar de feições. Além do mais o menino se dizia ser Walter Collins e
dava como endereço de casa o endereço da mulher, além de se afirmar seu filho e
chama-la de mamãe.
Em casa, Christine reúne
argumentos aptos a provar que aquele não era seu filho, pois tinha 8 cm. a menos
do que a marca que tinha na parede, da última vez em medira Walter e era
circuncisado, coisa que seu filho não era.
A polícia,
entretanto, insiste em dizer que o stress do desaparecimento fez o menino
reduzir o crescimento e que a circuncisão deve ter sido escolha do homem que o
raptara. Mais que isso, começa a afirmar
que o que a mulher quer é se ver livre da responsabilidade de criar o filho,
para poder se divertir e deixa-lo por conta do Estado.
O Reverendo
Briegleb, da igreja presbiteriana, vivido pelo sempre ótimo John Malkovich,
tinha um programa de rádio onde denunciava a corrupção policial abertamente e
procura por Christine para lhe alertar sobre o grau de desmandos da polícia de
Los Angeles.
Orientada e apoiada
pelo reverendo, Christine reúne provas escritas do dentista e da professora de
Walter e procura a imprensa para declarar o que está acontecendo, mas antes que
possa prosseguir em seu intento, tem seu internamento psiquiátrico decretado
pelo chefe de polícia.
No hospital
psiquiátrico, Christine se depara com várias mulheres internadas, como ela,
pelo código 12. Descobre, então, que este é o código para confinar no sanatório
mulheres que ousaram denunciar um policial, desde a prostituta que apanhava de
um deles e pôs a boca no trombone, até esposas agredidas e por ai vai.
Em paralelo, e
por meio de um excelente roteiro, descortina-se a descoberta de um serial
killer canadense que havia assassinado mais de 20 garotos no sítio onde morava.
A foto de vários meninos desaparecidos é reconhecida por um jovem que fora
coagido a ajudar o assassino, entre eles a foto de Walter Collins, do caso “solucionado
pela polícia”.
Cresce a
expectativa pela resolução do filme, o que está longe ainda de acontecer, pois
antes do final, ainda podemos entrar em contato com sentimentos diversos, como
a corruptibilidade e a honra, a esperança e a coragem, o amor materno, a
solidariedade, enfim, de forma dramática Clint Westwood. vai nos conduzindo por
essa história de luta, permeada pela dor íntima de uma mãe, que acaba por
transformar toda a cidade em sua estrutura de consciência coletiva e
transformação das instituições.
Christine é
resgatada do hospício e, a seguir, consegue fazer com que todas as mulheres
código 12 sejam retiradas de lá. O serial killer é encontrado, julgado e enforcado.
Os policiais corruptos e o prefeito são exonerados. E, quando você pensa que o
filme vai terminar, Clint volta a focar na busca da mãe pelo filho, que, de
repente se descobre, pode estar vivo.
Destaque para
cena em que Christine é autorizada a visitar o assassino na prisão (a primeira
mulher em 30 anos que teve permissão para tanto) um dia antes de seu
enforcamento, pois ele enviara um telegrama dizendo que queria contar a verdade
sobre se Walter fora morto ou não.
Ao final, você
descobre que Clint só usou a história real de Christine para recheá-la de motivos
sociais e humanos. Termina o filme e sobe o plano sobre Christine atravessando
a rua, com a informação de que ela nunca deixou de procurar por seu filho. A
gente não reencontra Walter Collins nesse filme, mas dá de cara com muitas
verdades interessantes que, a despeito de terem se passado em 1928, estão, mais
do que nunca, muito presentes hoje, nas sociedades contemporâneas.
Duas
curiosidades:
1. Christine
era supervisora de telefonistas e é muito engraçado ver como o modelo de call
center que chegou aqui no Brasil nos anos 90, já funcionava exatamente assim
nos EUA em 1928. Impagável!
2.
Como
americano gosta de terminar o filme subindo o plano, não?
Quer saber o que mais? A música é linda, cheia de
sax e foi composta pelo próprio Clint Westwood. Gentem, esse cara tem que ter chulé!
2 comentários:
adorei suas observacoes nunca tinha reparado nisto nos filmes americanos
e o Clint nao tem chule mais e republicano e bem reacionario e conservador
Obrigada pela visita, Jose Mauro.
Eis ai,então, o defeito do Clint, rsrsr que, sorte nossa, não interfere nadica em seus filmes!
Abs.
Postar um comentário