Uma animação contemporânea,
finalmente!
Frozen é um conto de fadas que fala de amor.
Frozen é um conto de fadas que fala de amor.
Até ai nenhuma novidade.
Acontece que Frozen já
começa desconstruindo os arquétipos da Imperatriz e do Imperador, fazendo
desaparecer o rei e a rainha logo no início da animação, mas, não sem antes
deixá-los posicionados em relação às duas filhas que têm.
Frozen parte, portanto, de um ponto para
um pouco além do momento em que os pais tratam de forma diferente duas
irmãs e, como no mito de Narciso, negam-lhes o conhecimento a respeito de si
mesmas, encerrando-lhes num cenário obscuro, de portas cerradas e cortinas fechadas para o mundo.
Para além do rei e da rainha,
Frozen se inicia mesmo a partir do amor entre duas irmãs.
Sim, para felicidade geral
da nação, há príncipes em Frozen! Ao menos um príncipe titulado, que, depois se
vê, é um sapo, e há também um sapo que acaba virando príncipe, mas a animação
vai mesmo é na toada das menininhas.
Há também o apaixonante
Olaf, o assexuado boneco de neve que funciona como uma espécie de “grilo
falante” da história do Pinóquio, uma consciência reflexiva, só que muito mais
ingênua e romântica e, até, nesse aspecto, uma consciência muito mais feminina
do que o rígido e masculino grilo da outra história.
Os meninos coadjuvam a
história! Os heroicos atos de bravura e heroísmo em favor de si próprias são
praticados mesmo é pelas mulheres e qualquer semelhança com a realidade
certamente não terá sido mera coincidência.
Isto porque as verdadeiras
heroínas do filme não ficam esperando pelos desajeitados meninos e assumem seus
poderes, sem, entretanto, renunciar ao aconchego e ao prazer da companhia masculina.
Uma delas, né, por que a
outra irmã (a mais diferentona!) parece mesmo não dar pista sobre se deseja ou
não a companhia de um príncipe ao seu lado. Em última análise, é a
representação da mulher que escolhe viver só, diante dos imensos poderes que
tem e os quais não consegue controlar, por desconhecer-se a si mesma.
E é por isso que o filme é
sensível! Por que tem a irmã hetero, tem a que parece não ser hetero, tem o
príncipe malvadão que parece ser bonzinho, sabe, aquele que te jura amor
eterno, mas só estava era de olho no teu trono?, tem o homem comum e
desajeitado que na verdade é um príncipe... Enfim, toda diferença em Frozen é
respeitada com carinho, até a subversão da ordem relativa ao complexo de
cinderela!
A questão do gelo, do
coração congelado que só pode ser curado por um ato de amor verdadeiro, ato
este que advém, ao final, de um amor diferente daquele preconizado pelos contos
de fadas que ouvimos e assistimos até hoje, e ai está a maior beleza de Frozen,
na ousadia de mostrar as coisas como são e não como foram um dia!
A grande riqueza de Frozen
está no fato dessa subversão da ordem posta ter sido trabalhada de modo tão
extremamente harmônico e agradável, abrigando e agregando tudo em si, ao tempo
em que demonstra e faz sentir uma verdade insofismável sobre o fato de as
mulheres terem assumido seu próprio destino como consequência natural da vida,
a despeito dos paradigmas arquetípicos.
Em Frozen, as mulheres
assumem seu próprio destino com graça, leveza e beleza, sem destituir o
masculino, apenas parecendo compreender os elementos presentes na construção do
masculino, assim como o ser feminino ali é naturalmente compreendido, sem
restrições, chacotas ou jargões.
Os trolls, criaturinhas
mágicas da animação, que ocupariam o papel do “divino” na história, mesmo sendo
aqueles a quem se busca em procura de ajuda para o que não se pode resolver
humanamente (ou contodefadísticamente), também não são detentores do poder
absoluto; estão sempre ali, em forma de pedras e convivem harmonicamente com
quem os procura, sem impor medo ou temor, ainda que, como dito a certa altura:
“todo mundo precisa de algum reparo”.
Sim, “todo mundo precisa de
algum reparo” e essa é a ideia central de Frozen, ao lado da coisa do amor
verdadeiro: somos seres imperfeitos em constante evolução.
“Todo mundo precisa de algum
reparo”, mas, convenhamos, Frozen é irretorquível!
Frozen tem duas indicações ao Oscar 2014: Melhor Longa de Animação e Melhor Canção Original.
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