O mais perfeito nome
para este filme seria, na verdade, “O que
terá acontecido com Martin Scorsese?”
Talvez porque a nova
invenção do Scorsese seja mesmo
dirigir filmes para ganhar prêmios em Hollywood, talvez porque eu tenha entrado
para ver o lobo logo após ter saído da sala de cinema da águia Lars Von Trier
com sua Nymphomaniac, mas a verdade é que o que vi ali, em O Lobo de Wall Street, foi um filme milimetricamente planejado para
ser premiado na academia, nada mais.
O que espantou mesmo é
ser um filme de Scorsese.
Olhando bem, não deveria espantar tanto, pois em 2012 Scorsese já trouxera ao mundo “A Invenção de Hugo Cabret”, feito para ganhar prêmios na Academia – e ganhou cinco.
George Clooney fez
muito melhor em TUDO PELO PODER (2012), ainda que a temática fosse outra.
A fábrica de Scorsese já tem no prelo, para 2014, o
filme Silence, cuja sinopse é “Século XVII. Dois padres jesuítas viajam até
o Japão, onde precisam investigar acusações de perseguição religiosa” -
dessa vez sem Di Caprio, e para 2015
o filme de suspense “The Snowman”, cujos atores ainda são
desconhecidos.
O Lobo de Wall Street é
uma adaptação do livro de “Memórias de
Jordan Belfort”. Tá, dói saber que a história é real e que Belfort foi um vigarista financeiro
americano que foi investigado pelo FBI até ser preso e entregar todo mundo por
uma pena menor.
Mas o pior de tudo é a
forma como o filme nos apresenta “O Lobo” em seu envolvimento com drogas,
prostitutas e as transações de seu mercado de ações paralelo, num ensandecido
culto ao dinheiro, que parece ter como objetivo continuar sendo apreciado após o
final do filme, por quem com ele se identifica.
Jordan
Belfort é o cara que representa “o guia”, “o pastor”, “o
lobo” que conduz as pessoas que estão com ele à ética da prosperidade americana,
sem se importar com os meios, desde que o final “ganhar dinheiro” seja
alcançado.
Nisto, temos que
admitir que Scorsese consegue nos
passar bem a sensação de que toda aquela loucura que está ao redor de Jordan é, na verdade, fundada no mesmo
princípio em que se assentam algumas igrejas e seitas, assim como se assentou o
Estado norte-americano em sua ética protestante que sempre girou ao redor do
dinheiro.
O filme é delirante, é
certo, Jordan, após ingressar como
corretor no mercado de capitais, vai da extrema perda ao ápice da fortuna
aproveitando oportunidades paralelas ao mercado oficial sem dar a menor
satisfação à Comissão de Valores Mobiliários e se tornando um lobo poderoso, na
medida em que também torna ricos os homens que treinou para comandar este
mercado.
No mais, é aquela
impressão de eu já vi essa luxúria toda em “Cassino” (do mesmo Scorsese) e, ao final, a sensação de que o crime
compensa e de que talvez Jordan
tenha feito mesmo atos de humanidade ao enriquecer-se e enriquecer pessoas ao
seu redor.
Vi um pessoa tirando os
óculos e limpando as lágrimas numa cena em que Jordan faz um dramalhão à frente de sua bolsa de valores paralela, a
Stratton Oakmont, perante as
centenas de “corretores” que tinha, com o microfone na mão, dizendo que ajudou
uma corretora, que quando chegou para ele estava com o aluguel atrasado e um
filho de oito anos pra criar e hoje vestia ternos Armani de três mil dólares e
tinha uma Mercedes (amém, irmãos? Amém!).
Eu não chorei, só ri!
Aliás, ri muito diante de cenas pastelões do patético Jordan e seu sócio e
estranho amigo Donnie Azoff,
interpretado pelo excelente Jonah Hill, extremamente drogados e
caricatos. Aliás, nessa linha comédia besteirol, o filme tem lá o seu mérito.
Di
Caprio e Jonah Hill estão muito bem como
atores e não me surpreenderia uma indicação para melhor ator e coadjuvante ao
Oscar deste ano. Aliás, Di Caprio, como está maduro
e bonito e pleno!
Ao final, a sensação é
de que Scorsese glorificou mesmo os
crimes financeiros de Jordan, absolvendo-o como absolvido devem ser os Estados
Unidos da América e como absolvido deve ser (deve?) Scorsese por se preocupar tanto em fazer apenas um filme comercial,
quando a gente sabe que o grego pode dar muito mais que isso.
Mais que isso, a
certeza de que o filme sublinha um tratamento da mulher como objeto e um culto ao
machismo como coisa extremamente natural, com a qual Scorsese não precisaria compactuar, mesmo que quisesse se manter
fiel ao livro. Para isso servem os bons diretores.
A falta da catarse
aristotélica ao final, tão necessária num filme como este, me soa como algo
perigoso para o mundo que absorve o que vê sem criticar.
Tá, Di Caprio e Jonah Hill valem o filme!
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