Não
consigo compreender porque O Mordomo da Casa Branca ficou fora da disputa pelo
Oscar sendo um filme completamente americano, como é.
Inspirado
na história verídica de Eugene Allen, o mordomo que trabalhou na Casa Branca
durante 34 anos (entre 1952 e 1986) e que no começo do filme é um garoto negro que vê
seu pai escravo ser assassinado na fazenda de algodão após o estupro de sua mãe
pelo senhor de escravos, o filme é uma ode americana aos direitos civis.
Oprah
Winfrey (A Cor Púrpura) está perfeita no papel de Gloria, a esposa de Eugene,
que no filme recebe o nome de Cecil Gaines (vivido por Forest Whitaker, e merecia
uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz).
O
filme tem ainda, em papeis secundários, Vanessa Redgrave como a matriarca da fazenda de algodão, Robin Williams como Eisenhower, John Cusack como
Richard Nixon, Jane Fonda como Nancy Reagan, além de Cuba Gooding Jr., Terrence
Howard, Lenny Kravitz e a cantora Mariah Carey.
O diretor Lee Daniels foi fartamente criticado por ter feito um
dramalhão, com trilha sonora manipuladora e absurdos como sugerir que conversas
tidas entre o mordomo e alguns presidentes americanos possam ter influenciado
decisões destes.
Entretanto, The Butler me parece mais libertador e construtivo do que 12Anos de Escravidão que, até agora não entendi porque, recebeu 09 indicações ao
Oscar.
Explico: em The Butler temos um paradoxal comportamento entre o Mordomo
e seu filho Louis (David Oyelowo). O pai, após o assassinato de seu pai na infância, fora levado para
dentro da casa e treinado para servir aos brancos sem ser notado.
Mais tarde, como mordomo da Casa Branca, fora advertido de que não
poderia ter preferências políticas “não se admite política na Casa Branca!”. É, portanto, um negro passivo, não resistente
às questões raciais que flamejam em seu país à época dos fatos.
Mesmo assim, pacificamente, anualmente se dirige ao gestor dos mordomos
na Casa Branca e repete o aviso de que os negros precisam receber como os
brancos pelo mesmo trabalho que desenvolvem ali e ter algumas chances de
progredir, ainda que saiba que a resposta sempre será algo como “ponha-se no
seu lugar”.
Pois bem, o filme recebe críticas ferozes por sugerir que algumas
conversas entre presidentes americanos e o mordomo poderiam ter influenciado
seus discursos em dados momentos, e eu pergunto: por que não?
A “passividade” do mordomo mais se assemelha a não-resistência proposta
por Gandhi do que a submissão do personagem escravizado em 12 Anos de
escravidão.
É certo que há um grande conflito entre o mordomo e seu filho Louis, que
vai por um caminho de extremo ativismo racial, militando nas colunas de Martin
Luther King e Malcon X, sendo constantemente aprisionado e espancado, mas sem
desistir de sua luta, jamais se rendendo a imposição de não-resistência do pai.
Mas ao final, a despeito de todo o mega aparato utilizado por Lee Daniels para descrever este longo e crucial período da história norte americana,
e apesar de seu excesso de didatismo, o filme traz a identificação da imensa
importância dos dois tipos de luta: a aquela que se dá de modo intensamente ativo
e a que se dá através da não resistência, mostrando o quanto ambas têm papel
fundamental na transformação das coisas.
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