“Por que você nunca mais escreveu
um livro?” Pergunta a velha freira quase santa, que fez voto de pobreza
e se alimenta apenas de alguns gramas de raízes amargas por dia, ao escritor personagem
central do filme, que lhe responde que é porque “eu procurava a grande beleza,
mas... Não encontrei”.
"Sabe por que eu só como raízes?",
Responde a velha freira com uma nova pergunta.
“Não... Não, por quê?”, quer saber o
escritor.
“Porque as raízes são importantes”.
O italiano Paolo Sorrentino nos presenteia com este, que não é um filme e sim
uma obra de arte. Pouco a falar, portanto, e muito a sentir e a apreciar.
Com visíveis influências de Fellini,
o filme é quase uma releitura de La
Dolce Vita, onde Marcello Mastroiani interpreta também um jornalista da
alta sociedade italiana e a fluidez do lúdico e do absurdo nos inebriam.
Aqui, o charmosíssimo Toni Servillo é o refinado jornalista Jep Gambardella, autor de um só único
livro, que busca inspiração para escrever mais.
Ao fundo, Roma. Não somente a cidade
de Roma, muito mais: a Ideia de Roma! Aquela que permeia todo o nosso mundo
ocidental, com seu brilho e decadência, e o poder, e a manipulação das coisas
através da religião, ainda que, ao final, Sorrentino
separe a religião da espiritualidade e resgate a espiritualidade humana como
algo que nos liberta e inspira.
A Grande Beleza, ainda que uma ilusão,
pode estar em tudo, ou em nada, mas, certamente, você a encontrará nesta belíssima
obra de Sorrentino que ordena o caos,
que em si mesmo oferece, nos proporcionando o êxtase da sensibilidade em todas
as cenas; na música, no roteiro, em tudo que nos faz ficar parados até terminar
o último crédito, porque o filme não acaba, ele se despede em movimento e
permanece dentro da gente ainda muito depois de assisti-lo, estou certa de que
para sempre.
Ao recuperar sua inspiração
para escrever, ainda somos brindados por esta magnífica fala de Jep Gambardella:
“Termina sempre assim; com a
morte.
Mas primeiro havia a vida;
escondida sobre o blá, blá, blá, blá, blá.
Está tudo sedimentado sobre o
falatório e os rumores: o silêncio e o sentimento, a emoção e o medo; os
insignificantes e inconstantes lampejos de beleza... Depois a miséria
desgraçada e o homem miserável; tudo sepultado sob a capa do embaraço de estar
no mundo blá, blá, blá, blá.
O outro lado é o outro lado. Eu
não vivo do outro lado. Portanto, que este romance comece.
No fundo, é apenas uma ilusão.
Sim, é apenas uma ilusão”.
A Grande Beleza concorre ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.
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